
Numa mera abstracção deste mundo ao qual estamos empregados, libertando com ingenuidade do tempo que nos conduz por esses caminhos mais ou menos conhecidos, entre ruelas de uma cidade cosmopolita e o atalho de uma praia desconhecida, o tempo vai controlando a incerteza do nosso sentido, da forma como deslocamo-nos perante rasgos de luz e sombra.
Estamos perante uma janela indiscreta de um comboio, numa carruagem sentados a observar diversos movimentos que caracterizam as situações de um olhar. Antes e depois, o melhor de um conjunto de modificações tudo visto do lugar junto há janela indiscreta. Uns sentam-se ao pé de nós por uns momentos, mais ou menos intensos, de maior ou menor duração, de seguida levantam-se e partem para outra carruagem, outros ainda saem numa paragem intermédia anterior aquela que estava prevista, há quem esteja sempre na mesma carruagem, umas vezes mais próximo outras mais afastado mas está sempre lá, a sua presença de forma directa ou indirecta vai-se verificando essencial. Há ainda aqueles que nunca passam na tua carruagem ou ate mesmo no teu comboio, observas através da janela noutro comboio numa linha paralela à tua e quem sabe se algum dia não se cruzam?! Com tudo isso e muito mais, tu nunca deixas de observar através dessa janela de forma indiscreta o Mundo esse mesmo que para uns é uma obra mal feita, para mim mais do que isso é uma obra em plena construção, há sempre uns retoques a dar, nem que seja na decoração…
Daquela janela onde estas sentado, vais observar três fases importantes, complexas e em muitas ocasiões inexplicáveis, o passado, o presente e o futuro, a manifestação da vontade perante a importância para com aquilo que sentimos, tanto pode ser constante, como em plena mutação, ás vezes abstrais-te de tudo e concentras a tua atenção no som que o comboio faz ao percorrer os carris, um barulho metálico e estridente, uma pintura a preto e branco sem moldura, uma escrita sem palavras ou uma arquitectura de uma casa para viver e não para habitar. No desenrolar desta viagem o tempo vai-se alterando, umas vezes chove, outras faz um sol abrasador que aquece a tua janela de tal modo que tens de fechar a cortina, os olhos e esquecer que esta viagem tem um fim, com objectivos mais ou menos definidos…
Como um dia disse Marguerita Yourcenar “o nosso verdadeiro lugar de nascimento é aquele em que lançamos pela primeira vez um olhar de inteligência sobre nós próprios”.